domingo, 10 de fevereiro de 2008

Luis Vaz de Camões


Luís Vaz de Camões (cerca de 152410 de Junho de 1580) é frequentemente considerado como o maior poeta de língua portuguesa e dos maiores da Humanidade. O seu génio é comparável ao de Virgílio, Dante, Cervantes ou Shakespeare. Das suas obras, a epopeia Os Lusíadas é a mais significativa.

Origens e juventude

Camões teria nascido em Lisboa, Coimbra ou Alenquer por volta de 1517 1524 ou 1525, de uma família de origem galega que se fixou primeiro no Norte (Chaves) e depois irradiou para Coimbra e Lisboa. Foi seu pai Simão Vaz de Camões e mãe Ana de Sá e Macedo. Por via paterna, Camões seria trineto do trovador galego Vasco Pires de Camões, e por via materna, aparentado com o navegador Vasco da Gama.
Entre 1542 e 1545, viveu em Lisboa, trocando os estudos pelo ambiente da corte de D. João III, conquistando fama de poeta, e feitio altivo.
Viveu algum tempo em Coimbra onde teria frequentado o curso de Humanidades, talvez no Mosteiro de Santa Cruz, onde tinha um tio padre D. Bento de Camões. Não há registos da passagem do poeta por Coimbra. Em todo o caso, a cultura refinada dos seus escritos torna a única universidade de Portugal do tempo como o lugar mais provável de seus estudos. Ligado à casa do Conde de Linhares, D. Francisco de Noronha, e talvez preceptor do filho D. António, segue para Ceuta em 1549 e por lá fica até 1551. Era uma aventura comum na carreira militar dos jovens, recordada na elegia Aquela que de amor descomedido. Num cerco, teve um dos olhos vazados por uma seta pela fúria rara de Marte. Ainda assim, manteve as suas potencialidades de combate.
De regresso a Lisboa, não tarda em retomar a vida boémia. São-lhe atribuídos vários amores, não só por damas da corte mas até pela própria irmã do Rei D. Manuel I. Teria caído em desgraça, a ponto de ser desterrado para Constância. Não há, porém, o menor fundamento documental. No dia de Corpus Christi de 1552 entra em rixa, e fere um certo Gonçalo Borges. Preso, é libertado por carta régia de perdão de 7 de Março de 1553, embarcando para a Índia na armada de Fernão Álvares Cabral, a 24 desse mesmo mês.

Oriente

Chegado a Goa, Camões toma parte na expedição do vice-rei D. Afonso de Noronha contra o Rei de Chembe, conhecido como o «rei da pimenta». A esta primeira expedição refere-se a elegia O Poeta Simónides falando. Depois Camões fixa-se em Goa onde escreveu grande parte da sua obra épica. Considerou a cidade como uma madrasta de todos os homens honestos. Lá estudou os costumes de cristãos e hindus, e a geografia e a história locais. Toma parte em mais expedições militares. Entre Fevereiro e Novembro de 1554 vai na armada de D. Fernando de Meneses constituída por mais de 1000 homens e 30 embarcações, ao Golfo Pérsico, aí sentindo a amargura expressa na canção Junto de um seco, fero e estéril monte. No regresso é nomeado "provedor-mor dos defuntos nas partes da China" pelo Governador Francisco Barreto, para quem escreveria o Auto do Filodemo.
Em 1556 parte para Macau, onde continuou os seus escritos. Vive numa célebre gruta com o seu nome e por aí terá escrito boa parte de "Os Lusíadas". Naufragou na foz do rio Mekong, onde conservou de forma heróica o manuscrito d'Os Lusíadas então já adiantados (cf. Lus., X, 128). No naufrágio teria morrido a sua companheira chinesa Dinamene, celebrada em série de sonetos. É possível que datem igualmente dessa época ou tenham nascido dessa dolorosa experiência as redondilhas Sôbolos rios.
Regressa a Goa antes de Agosto de 1560 e pede a protecção do Vice-Rei D. Constantino de Bragança num longo poema em oitavas. Aprisionado por dívidas, dirige súplicas em verso ao novo Vice-Rei, D. Francisco Coutinho, Conde do Redondo, para ser liberto. Em 1568, vem para a Ilha de Moçambique, onde, passados dois anos, Diogo do Couto o encontrou, como relata na sua obra, acrescentando que o poeta estava "tão pobre que vivia de amigos". (Década 8.ª da Ásia). Trabalhava então na revisão de Os Lusíadas e na composição de "um Parnaso de Luís de Camões, com poesia, filosofia e outras ciências", obra roubada. Diogo do Couto pagou-lhe o resto da viagem até Lisboa, onde Camões aportou em 1570. Em 1580, de regresso a Lisboa, assistiu à partida do exército português para o norte de África, morre numa casa de Santana, em Lisboa, sendo enterrado numa campa rasa numa das igrejas das proximidades.

Os Lusíadas e a obra lírica

Os Lusíadas é considerada a principal epopeia da época moderna devido à sua grandeza e universalidade. As realizações de Portugal desde o Infante D. Henrique até à união dinástica com Espanha em 1580 são um marco na História, marcando a transição da Idade Média para a Época Moderna. A epopeia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis portugueses que navegaram em torno do Cabo da Boa Esperança e abriram uma nova rota para a Índia. É uma epopeia humanista, mesmo nas suas contradições, na associação da mitologia pagã à visão cristã, nos sentimentos opostos sobre a guerra e o império, no gosto do repouso e no desejo de aventura, na apreciação do prazer e nas exigências de uma visão heróica.
A obra lírica de Camões foi publicada como "Rimas", não havendo acordo entre os diferentes editores quanto ao número de sonetos escritos pelo poeta e quanto à autoria de algumas das peças líricas. Alguns dos seus sonetos, como o conhecido Amor é fogo que arde sem se ver, pela ousada utilização dos paradoxos, prenunciam já o Barroco que se aproximava.


As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo reino, que tanto sublimaram.(...)
Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte

Camões, Lusíadas, Canto I.

O estilo

É fácil reconhecer na obra poética de Camões dois estilos não só diferentes, mas talvez até opostos: um, o estilo das redondilhas e de alguns sonetos, na tradição do Cancioneiro Geral; outro, o estilo de inspiração latina ou italiana de muitos outros sonetos e das composições (h)endecassílabas maiores. Chamaremos aqui ao primeiro o estilo engenhoso, ao segundo o estilo clássico. O estilo engenhoso, tal como já aparece no Cancioneiro Geral, manifesta-se sobretudo nas composições constituídas por mote e voltas. O poeta tinha que desenvolver um mote dado, e era na interpretação das palavras desse mote que revelava a sua subtileza e imaginação, exactamente como os pregadores medievais o faziam ao desenvolver a frase bíblica que servia de tema ao sermão. No desenvolvimento do mote havia uma preocupação de pseudo-rigor verbal, de exactidão vocabular, de modo que os engenhosos paradoxos e os entendimentos fantasistas das palavras parecessem sair de uma espécie de operação lógica.

Obras

1572- Os Lusíadas (texto completo)
1595 - Amor é fogo que arde sem se ver
1595 - Eu cantarei o amor tão docemente
1595 - Verdes são os campos
1595 - Que me quereis, perpétuas saudades?
1595 - Sobolos rios que vão
1595 - Transforma-se o amador na cousa amada
1595 - Sete anos de pastor Jacob servia
1595 - Alma minha gentil, que te partiste
1595 - Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
1595 - Quem diz que Amor é falso ou enganoso

Bibliografia


"Os Lusíadas". Catálogo da Exposição Bibl., iconogr. e medalhística de Camões. Intr., sel. e notas de José V. de Pina Martins. Lisboa, 1972;
Col. Camoniana de José do Canto. Lisboa, 1972.

Bibliografia activa


Enfatriões. Pref. e notas de Vieira de Almeida. Lisboa, 1942;
El-Rei Seleuco. Id. Ib., 1944;
Obras completas. Com prefácio e notas de Hernâni Cidade. Lisboa, 1946-1947;
Obra completa. Org., intr., com. e anotações de A. Salgado Júnior. R. de Janeiro, 1963;
Os Lusíadas. Leitura, prefácio e notas de Álvaro J. da Costa Pimpão. Lisboa, 1992;
Rimas. Texto estabelecido e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão. Coimbra, 1994.

Bibliografia passiva


Rebelo Gonçalves, Dissertações Camonianas. S. Paulo, 1937;
António Salgado Júnior, Os Lusíadas e a viagem do Gama. O tratamento mitológico de uma realidade histórica. Porto, 1939;
B. Xavier Coutinho, Camões e as artes plásticas. Porto, 1946-1948;
J. Vieira de Almeida, Le théâtre de Camões dans l'histoire du théâtre portugais. Lisboa, 1950;
H. Cidade, L. de Camões. Os Autos e o teatro do seu tempo. As cartas e o seu conteúdo biográfico. Lisboa, 1956;
Jorge de Sena, Uma canção de Camões. Lisboa, 1966; id., Os sonetos de Camões e o soneto quinhentista peninsular. Lisboa, 1969;
Georges le Gentil, Camões. Lisboa, 1969;
Roger Bismut, La Lyrique de Camões. Paris, 1970;
Vítor M. de Aguiar e Silva, Maneirismo e Barroco na poesia lírica portuguesa. Coimbra, 1971;
M.ª Isabel F. da Cruz, Novos subsídios para uma ed. crítica da Lírica de Camões. Porto, 1971;
Visages de L. de Camões. Paris, 1972;
António José Saraiva, Camões. Lisboa, 1972;
XLVIII Curso de Férias da Faculdade de Letras de Coimbra. Ciclo de lições comemorativas do IV Cent. da publ. de "Os Lusíadas". Coimbra, 1972;
Luciano Pereira da Silva, A Astronomia de "Os Lusíadas". Lisboa, 1972;
Ocidente (n.º especial). Nov. 1972;
Garcia de Orta (n.º especial). Lisboa, 1972;
Cleonice Berardinelli, Estudos Camonianos. R. de Janeiro, 1973; Estudos Camonianos. R. de Janeiro, 1974;
João Mendes, Lit. Portuguesa I. Lisboa, 1974;
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Vítor M. de Aguiar e Silva, Notas ao cânone da Lírica camoniana. Coimbra, 1968 e 1975;
Gilberto Mendonça Teles, Camões e a poesia brasileira. R. de Janeiro,1979;
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Homenaje a Camoens. Estudios y ensayos hispano-portugueses. Granada, 1980;
Brotéria, vols. 110 e 111;
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Eduardo Lourenço, Poesia e Metafísica. Lisboa, 1980;
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Jorge Borges de Macedo, "Os Lusíadas e a História. Lisboa, 1980;
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Vasco Graça Moura, L. de Camões: alguns desafios. Lisboa, 1980;
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W. Storck, Vida e obras de L. de Camões. Lisboa, 1980;
Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 1980-1981;
M.ª Vitalina Leal de Matos, Introdução à poesia de L. de Camões. Lisboa, 1980; id., O canto na poesia épica e lírica de Camões. Paris, 1981;
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José Pedro Machado, Notas Camonianas. Lisboa, 1981;
J. Filgueira Valverde, Camões. Coimbra, 1981; Cuatro lecciones sobre Camoens. Madrid, 1981;
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A Viagem de "Os Lusíadas": símbolo e mito. Lisboa, 1981;
E. Asensio e J. V. de Pina Martins, L. de Camões. El Humanismo en su obra poética. Los Lusíadas y las Rimas en la poesía española. Paris, 1982;
M.ª Lucília G. Pires, A crítica camoniana no séc. XVII. Lisboa, 1982;
J. de Sena, Estudos sobre o vocabulário de "Os Lusíadas". Lisboa, 1982;
Jacinto do Prado Coelho, Camões e Pessoa, poetas da utopia. Lisboa, 1983;
H. Cidade, L. de Camões. I. O Lírico. Lisboa, 1985; id., L. de Camões. II. O Épico. Lisboa, 1985;
Camoniana Californiana. St.ª Bárbara, 1985;
Vasco Graça Moura, Camões e a divina proporção. Lisboa, 1985; id., Os penhascos e a serpente. Lisboa, 1987;
Fidelino de Figueiredo, A épica portuguesa do séc. XVI. Lisboa, 1987;
Martim de Albuquerque, A expressão do Poder em L. de Camões. Lisboa, 1988;
J. A. Cardoso Bernardes, O Bucolismo português. Coimbra, 1988;
M.ª Helena Ribeiro da Cunha, A dialéctica do desejo na Lírica de Camões. Lisboa, 1989;
A. Costa Ramalho, Camões no seu e no nosso tempo. Coimbra, 1992;
Actas das Reuniões Internacionais de Camonistas: I (Lisboa, 1973); III (Coimbra, 1987); IV (Ponta Delgada, 1984) e V (S. Paulo, 1992);
Revista Camoniana (S. Paulo, 10 vols publ. desde 1964).
Grande enciclopédia do conhecimento.

D.João IV


D. João IV de Portugal e II de Bragança (Vila Viçosa, 19 de Março 16046 de Novembro 1656) foi o vigésimo primeiro Rei de Portugal, e o primeiro da quarta dinastia, fundador da dinastia de Bragança.


Dados biográficos iniciais


Era filho de Teodósio II, sétimo Duque de Bragança e de Ana de Velasco y Girón, dama espanhola. João IV de Portugal herdou o senhorio da casa ducal em 1630 como D. João II e foi o 8º duque de Bragança, 5º duque de Guimarães e terceiro duque de Barcelos. Por via paterna era trineto do rei Manuel I de Portugal, através da duquesa D. Catarina, infanta de Portugal, sua avó paterna. Ficou para a história como O Restaurador (por haver sido restaurada a independência nacional) ou O Afortunado (por aparentemente, uma vez caída a coroa na sua cabeça, não ter querido reinar, e só se ter decidido após a intervenção da esposa).
Em «História de Portugal», volume V, Joaquim Veríssimo Serrão afirma - «de seu aio D. Diogo de Melo recebeu aprimorada educação e o gosto pela montaria; e do doutor Jerónimo Soares uma boa preparação nas letras clássicas e em teologia. Também se deu a estudos de música, ouvindo as lições do inglês Robert Tornar, que o duque D. Teodósio contratara para mestre da capela de Vila Viçosa.»
A Casa de Bragança tinha grande prestígio no reino e o oitavo duque tinha a vantagem de beneficiar da crescente degradação do governo filipino e de um ambiente mais propício à revolta, haja vista os excessos da tributação lançada por Olivares. O duque ajudou a construir sua própria imagem de homem não comprometido e permitiu que o erguessem como reserva única da Nação sedenta de autonomia política, segundo Veríssimo Serrão em sua «História de Portugal», vol. V, página 13.
Quando em agosto de 1633 visitou o marquês de Ferreira em Évora, com seu irmão D. Alexandre, «a cidade acolheu-o com as marcas próprias de um soberano, na desejada antevisão de sua realeza». Para Veríssimo Serrão, «pode aceitar-se que o projecto de uma revolta tenha depois ocorrido no Paço de Vila Viçosa, no convívio do duque com dois precursores da idéia: o secretário João Pinto Ribeiro e Pedro de Mendonça Furtado, alcaide de Mourão.» A versão de que não queria tomar a chefia do movimento por receio ou hesitação nasceu porque seu desejo, «por não sentir a madureza do fruto», estava em aquietar o povo, por entender que motins trariam a inevitável eração da coroa espanhola. Teria também havido uma sondagem junto de seu irmão D. Duarte, que combatia no exército imperial e chegou a Lisboa em 12 de agosto de 1638, para «concertar os negócios da sua fazenda», em viagem de caráter particular. Mas se sabe que o duque não quis arriscar o futuro e se limitou a promessas de auxílio no caso de o movimento triunfar. Diz Veríssimo Serrão que «a aparente indecisão do duque encobria, desde a primeira hora, uma vontade firme de triunfo, servindo plenamente o desejo dos conjurados. Não era D. João o chefe de uma revolta, mas a figura a quem cabia exercer a realeza, tendo de estar acima da organização militar que lhe abria as portas do trono.»


Restauração da Independência


Em 1640, quando a burguesia e a aristocracia portuguesas, descontentes com o domínio castelhano sobre Portugal que se propunha efectivar o valido Olivares, terminando com a Monarquia Dual, quiseram restaurar a dinastia portuguesa, foi ele o escolhido para encabeçar a causa. Dom João aceitou a responsabilidade com relutância, diz a lenda que incentivado sobretudo pela sua mulher Dona Luísa de Gusmão. Este facto se deverá ter devido à prudência que se impunha na escolha da conjuntura favorável, e do tempo preparatório necessário para o efeito, visto Portugal nessa época estar quase desarmado, e Castela ser ainda ao tempo a maior potência militar na Europa. Dona Luisa de Gusmão, sendo irmã do Duque de Medina Sidónia que sonhou revoltar-se com a Andaluzia de que chegou a sonhar ser rei, estaria talvez influenciada por ele.
A nomeação do Duque para governador-geral das armas de Portugal veio a ser o motor da revolta, propiciando-a. Nos fins de junho de 1639 esteve em Almada, sendo visitado por muitos nobres, desesperados alguns com as violências do governo filipino. Entre eles, Pedro de Mendonça Furtado, acima referido, Jorge de Melo, irmão do monteiro-mor, D. Antão de Almada e o velho D. Miguel de Almeida, da casa de Abrantes. O plano da conjura teria sido então apresentado ao Duque: eles, e seus parentes e amigos, aclamavam-no em Lisboa, apoderando-se do Paço, matando o detestado Miguel de Vasconcelos. Mas o Duque recusou, pela consciência de que «não havia ainda ocasião» e aconselhou prudência aos mais exaltados. No dia 1º de julho, o Duque foi a Lisboa saudar a princesa Margarida e teve calorosa recepção da parte da nobreza, dos membros do clero e do povo.
Eram fatores vivos de revolta a forçada presença de muitos nobres portugueses em Madrid, e a novidade de um recrutamento de tropas lusitanas para irem ajudar a reprimir a independência recentemente declarada da Catalunha. Em Agosto de 1640, Filipe III de Portugal pretendeu convocar Cortes nos seus outros reinos de Aragão e de Valência, para aquietar o espírito dos catalães, ordenando que o acompanhassem nessa jornada também fidalgos portugueses, sobretudo aqueles que eram comendadores das ordens militares. «Todos compreenderam que partindo para a Espanha iriam acelerar o processo de absorção política que o conde-duque de Olivares pretendia», segundo Veríssimo Serrão, e «na recusa de muitos em cumprir o mandado régio terá de ver-se o detonador do movimento que veio a estalar em 1º de Dezembro seguinte.»
Houve então uma reunião em 12 de Outubro em casa de D. Antão de Almada. Mendonça Furtado foi a Évora, sondar o Marquês de Ferreira, também ele um Bragança, e outros nobres, e depois a Vila Viçosa, onde não escondeu ao Duque a urgência dos conjurados em lançarem o movimento. Para a aceitação de Dom João teriam contribuído António Pais Viegas e a duquesa D. Luísa que, segundo a tradição romântica tardia, «de maneira varonil, quebrara os receios do marido ao afirmar que antes queria morrer reinando do que acabar servindo.»
A 1 de Dezembro deu-se o golpe palaciano e, em 15 de Dezembro foi aclamado Rei de Portugal.


Reuniões Secretas


Depois da conversa definitiva com o Duque de Bragança, os conspiradores reuniram-se várias vezes em Lisboa para combinarem como e quando haviam de fazer a revolução.
Essas reuniões tinham de ser feitas às escondidas para que não chegassem aos ouvidos da regente Duquesa de Mântua e do secretário de Estado Miguel de Vasconcelos. Se a notícia se espalhasse, seriam acusados de traição e condenados à morte.
Mas, mesmo que não conseguissem provas para os incriminar, qualquer rumor acerca do que se preparava teria efeitos desastrosos porque os soldados castelhanos de guarnição em Lisboa ficariam em estado de alerta, eliminando-se o efeito surpresa. Todo o cuidado era pouco.
As reuniões realizaram-se em 3 sítios: no palácio de Jorge de Melo, em Xabregas, no Palácio dos Duques de Bragança em Lisboa, no Chiado, e no Palácio Almada, de D. António Vaz de Almada, no Rossio. Para não levantar muitas suspeitas os conspiradores nunca iam juntos e cada um seguia no seu coche com as cortinas corridas. A conspiração ia-se assim realizando...


Aclamação de D. João IV como Rei de Portugal


A fonte coeva fundamental sobre o assunto é o volume I da História de Portugal Restaurado da autoria do Conde da Ericeira, republicada modernamente no Porto em edição anotada e prefaciada por António Álvares Dória, em 1945.
Narra a tradição que D. Filipa de Vilhena, futura marquesa de Atouguia, armou cavaleiros na véspera da conjura, a fim de nela poderem participar, a seus filhos D. Francisco Coutinho e D. Jerónimo de Ataíde.
O mesmo dizem ter feito outra intrépida fidalga, Dona Mariana de Lancastre, armando cavaleiros pela mesma altura aos seus dois filhos Fernão Teles de Menezes, futuro primeiro conde de Vilar Maior, e António Teles da Silva, futuro governador-geral do Brasil.
É costume afirmar que Miguel de Vasconcelos não soube da revolta, pelo que não tomou providências. Mas está provado, diz o historiador Joaquim Veríssimo Serrão, que lhe chegaram anteriormente rumores da conjura e que na véspera recebeu uma carta, que por descuido não abriu, com o nome dos conjurados.
O número de fidalgos intervenientes no Primeiro de Dezembro é geralmente dito de quarenta, talvez por arrastamento mental do ano da revolução, afirmando no entanto alguns autores que foram em maior número do que esse.
No dia 1º de Dezembro, de manhã muito cedo, dirigiram-se os fidalgos e os seus criados, todos bem armados, ao Paço da Ribeira, aonde rompendo por ele dentro, entraram nos aposentos da princesa regente, a vice-rainha Margarida Gonzaga, duquesa viúva de Mântua, prima do rei Habsburgo, que facilmente dominaram, passando a procurar então a Miguel de Vasconcelos, o português traidor secretário de Estado, aliado do valido castelhano Olivares no seu recente projecto de anexação de Portugal e outros reinos a Castela, no quadro de uma centralização à francesa, inspirada no modelo de Richelieu, que desejava aplicar à multifacetada monarquia hispânica filipina em bloco.
O principal comando da operação parece ter estado nas mãos de D. Miguel de Almeida, futuro conde de Abrantes, de Jorge de Melo, irmão do monteiro-mor, de D. Antão de Almada, que veio a ser o primeiro embaixador em Londres, e de João Pinto Ribeiro, agente do duque de Bragança em Lisboa. Após eles, outros fidalgos - todos filhos segundos - como D. João da Costa, D. Gastão Coutinho, João Saldanha da Gama, Manuel de Melo, os dois referidos irmãos António Teles da Silva e Fernão Teles de Meneses, D. António Mascarenhas e outros. Esta delegação da responsabilidade da insurreição nos filhos segundos das casas fidalgas, a exemplo do que em outras várias ocasiões sucedeu na História de Portugal até ao século XIX, permitia manter a salvo de consequências maiores e mais graves as mesmas, se a insurreição viesse a falhar, permanecendo oficialmente os chefes de casa fiéis à ordem reinante, e ignorantes da conspiração da juventude.Naquele tempo as notícias viajavam por mensageiros e portanto demoravam a chegar ao destino. O Duque de Bragança aguardava no Palácio de Vila Viçosa o resultado da conspiração e, segundo os documentos da época, só soube a boa-nova no dia 3. Muitos outros mensageiros espalharam-se por todo o país a cavalo, levando consigo cartas para as autoridades de cada terra se encarregarem de aclamar o novo rei. A aclamação em todo o território português fez-se pacifica e alegremente, desde Bragança ao Algarve, desde o Minho à Madeira, de Lisboa a Macau, passando pelo Brasil, África e Índia: excepto na cidade de Ceuta, que dependia excessivamente por então do suporte militar e alimentar por parte da sua vizinha Castela, a quem continuou ligada. Por todo o lado as populações explodiam de felicidade.
Logo se escolheram os governadores provisórios do Reino, durante os poucos dias que decorreriam até à chegada de D. João à sua capital: D. Rodrigo da Cunha, arcebispo de Lisboa, D. Sebastião de Matos de Noronha, arcebispo de Braga, e o visconde de Vila Nova de Cerveira D. Lourenço de Lima, os quais deram ordem para os tribunais continuarem no exercício de funções, pois estava garantido o sossego da cidade.
D. João IV chegou a Lisboa na noite de 6 de Dezembro. Nos dias seguintes houve festejos, procissões e iluminações públicas. Enquanto se preparava a cerimónia da aclamação, o rei ocupava-se a nomear embaixadores, que deveriam partir a fim de que os países estrangeiros reconhecessem a alteração dinástica em Portugal, e generais, que deviam encarregar-se da defesa das fronteiras e dos portos. Ninguém tinha dúvidas que o tirano destronado Filipe III, e sobretudo o seu valido castelhano Olivares, não iriam cruzar os braços. Decerto este trataria de preparar exércitos para invadir Portugal. A notícia da aclamação da casa de Bragança chegou a Madrid a 7 de Dezembro, levada por um estafeta castelhano ao serviço do governador de Badajoz. Como era de prever, os castelhanos acusaram de traição não só ao Duque de Bragança mas a todos os que tinham participado no movimento palaciano. No entanto, as tropas castelhanas não marcharam logo para a fronteira portuguesa porque estavam demasiado ocupadas e dispersas noutros teatros da Guerra dos Trinta Anos, e e nomeadamente com a revolta da Catalunha suportada militarmente pela França de Richelieu, o que deu tempo aos portugueses para se organizarem na defesa.
No dia 15 de Dezembro de 1640, foi alçado e aclamado solenemente em Lisboa D. João IV. A cerimónia decorreu num grande teatro de madeira armada, revestido de preciosos panejamentos, contíguo à engalanada varanda do Paço da Ribeira, e com ela comunicante. Varanda pela qual saíu o novo rei em complicado e demorado cerimonial hierárquico para o Terreiro defronte aonde, diante da Nobreza, do Clero e do Povo de Portugal, jurou manter, respeitar, e fazer cumprir os tradicionais foros, liberdades e garantias dos Portugueses, violados pelo seu antecessor estrangeiro.
Esteve o monarca rodeado dos mais altos oficiais-mores da corte portuguesa, fidalgos que em geral manteve nos cargos e dignidades áulicas que já exerciam anteriormente: o camareiro-mor João Rodrigues de Sá, o condestável D. Francisco de Melo, marquês de Ferreira, o alferes-mor Fernão Teles de Meneses, 1º conde de Vilar Maior, o mordomo-mor D. D. Manrique da Silva, futuro primeiro marquês de Gouveia, o reposteiro-mor Bernardim de Távora e o guarda-mor Pedro de Mendonça Furtado. A oração de praxe da aclamação, documento político -jurídico enunciando os direitos esbulhados da casa de Bragança ao trono português nesse dia restaurados, coube a um notável jurista que se destacaria depois também como diplomata, o Dr. Francisco de Andrade Leitão. E depois do alferes-mor entoar em uníssino com todos os presentes, em alta voz, o triplo brado tradicional, Real, Real, por el-Rei Dom João de Portugal, o Conde de Cantanhede, presidente do Senado da Câmara de Lisboa, fez entrega ao rei das chaves da cidade, tendo então início o solene cortejo que processionalmente se dirigiu] rumo à Sé, aonde foi celebrado um solene Te Deum de graças.


O irmão do rei


D. João IV tinha um irmão mais novo, D. Duarte de Bragança, infante de Portugal, que partira para a Áustria quatro anos antes da aclamação de seu irmão mais velho.
Militar corajoso e competente, decidira participar na Guerra dos Trinta Anos. Em 1638 visitou Portugal e, como o Duque de Bragança nessa altura estava ainda renitente em aceitar a coroa e encabeçar uma rebelião, os conspiradores chegaram a pensar escolher D. Duarte para esse efeito, tal como haviam pensado, em último recurso, numa República - estas ofertas no entanto podem não ter passado de oratória persuasiva por parte dos fidalgos mais jovens, junto da casa de Bragança, mais prudente.
Seja como for, ainda não era hora, e caso este projecto relativo ao infante Dom Duarte tenha existido mesmo, sendo duvidoso que o aceitasse sem consentimento do irmão mais velho, o dito não se concretizou.
Assim, aquele que alguns pensam que poderia ter tido hipótese de ter vindo a ser rei de Portugal acabou preso na Alemanha, porque o imperador Fernando III, também ele um Habsburgo, era aliado do destronado Filipe III de Portugal, seu primo. A pedido deste, em 1641, encarcerou o infante português. As esforçadas diligências diplomáticas portuguesas, arrastadas por muitos anos, não conseguiram libertá-lo, morrendo o Infante solteiro e sem geração, ingratamente no cativeiro, à ordem do próprio soberano que fora servir...




Após a Restauração, o problema militar era primordial. Um decreto de 11 de dezembro de 1640 instituiu o Conselho de Guerra formado por 10 membros com experiência militar: o conde de Óbidos, Matias de Albuquerque, D. Francisco de Faro, D. Gastão Coutinho, João Pereira Corte-Real, D. Álvaro de Abranches, Jorge de Melo, Fernão da Silveira, D. Jorge de Meneses e Vasco Fernandes César.
Uma parte da nobreza e alguns prelados se mostraram hostis, e em Madrid assim que a «rebelião» do duque de Bragança foi conhecida, foi considerado traidor, versão que a diplomacia filipina espalhou nas capitais européias. Os que viviam em Madrid recusaram a oferta de regresso e de perdão do monarca, «na inveja senhorial que mantinham pela casa de Bragança», segundo Veríssimo Serrão. Houve assim grave cisão no corpo da nobreza, que se confirma pelas tenças e lembranças concedidas desde 1641, e «a limpeza no tecido social alterou em muitas famílias o quadro da sucessão patrimonial, havendo muitos nobres que pagaram com o definitivo exílio o seu desamor ou falta de confiança na Restauração». Houve mesmo tentativa de assassinar D. João IV e no «Rossio, a 29 de agosto de 1641, pagaram os riscos da conspiração o marquês de Vila Real, o duque de Caminha, o conde de Armamar e D. Agostinho Manuel, assim como o doutor Belchior da Fonseca, Cristóvão Cogominho, guarda-mor da Torre do Tombo, Pedro de Baeça», alguns mercadores, e outros mais. «A sentença puniu os crimes de lesa-pátria e lesa-majestade, pelo que o silêncio foi tido por encobrimento.»
Seguiu-se uma guerra com Espanha na Península e nas colónias, onde Portugal foi assistido pela Inglaterra, França e Suécia (adversários dos espanhóis na guerra dos trinta anos). Pese embora a conjura de 1641 contra o novo rei, da qual resultou uma severa punição para os seus responsáveis, D. João IV teve o apoio da grande maioria da sociedade portuguesa, o que lhe permitiu criar novos impostos, desvalorizar a moeda e recrutar voluntários para fazer face às necessidades monetárias e humanas de um confronto militar que se adivinhava próximo com a vizinha Espanha.
D. João IV enviou também diplomatas às principais cortes europeias com o objectivo de conseguir o reconhecimento da independência e de obter apoios financeiros e militares. Sendo necessário justificar que D. João IV não era um rebelde mas sim o legítimo herdeiro do trono, que havia sido usurpado por Filipe II de Espanha. D. João IV assume-se como o herdeiro de Catarina de Bragança, candidata ao trono e afastada por Filipe II em 1580.
Das Cortes de 1641 saiu uma nova doutrina que defendia que o poder provinha de Deus através do povo, que, por sua vez, o transferia para o rei. Em caso de usurpação ou tirania, o povo tinha o poder de destituir o rei, precisamente o que aconteceu com Filipe IV.


Campanhas militares


Em 1641 verificaram-se também os primeiros confrontos. O Alentejo era visado, como parte mais vulnerável do Reino e principal domínio da Casa de Bragança, além de porta natural da foz do Tejo. O conde de Vimioso concentrou em Elvas os meios de defesa mas, tendo-se fortalecido em Badajoz, o conde de Monterrey atacou Campo Maior e Olivença. Vimioso foi substituído por um militar com experiência ultramarina, Matias de Albuquerque, que providenciou a defesa das praças, do Marvão a Serpa.
Em 1642 houve ataque ao sotavento algarvio, Alcoutim e Castro Marim, mas o perigo foi conjurado. Na Beira Alta e no Alto Minho huve apenas escaramuças. Na primavera de 1644 os espanhóis concentraram seu poderio em Badajoz, e a primeira grande vitória do exército português se deu em 26 de maio na Batalha do Montijo, além de uma tentativa fracassada dos espanhóis no cerco de Elvas. Montijo revigorou o ideal da Restauração, e Matias de Albuquerque recebeu o título de conde de Alegrete.
A Espanha estava fortemente mergulhada na Guerra dos Trinta Anos, «a cuja paz a nação vizinha aspirava para poder lançar seu peso militar contra Portugal», pelo que foi preciso esperar pelo fim da guerra entre franceses e espanhóis, em 1659, para que os espanhóis pudessem concentrar todas as suas atenções na anulação da Restauração portuguesa. Os anos até 1656 foram salvadores para Portugal, ajudando a coroa a empreender o grande esforço militar e financeiro para assegurar o triunfo.
Momento perigosíssimo para a política deste rei foi 1648-1649, o da reconquista de Angola e São Tomé por Salvador Correia de Sá e Benevides: a assinatura da Paz de Munster tornara-se um perigo para a Restauração, pois a Espanha reconhecia aos holandeses a posse das capitanias do Brasil, o que era de molde a comprometer a dupla política real. O Rei chegou por um momento a encarar a hipótese de se transferir para a ilha Terceira, a fim de salvar a coroa da ameaça militar que Filipe IV lançaria sobre o reino. Chegou a aventar-se o pagamento de uma indenização para que a Holanda deixasse o Nordeste brasileiro. E foi do Brasil que veio a solução militar que em breve iria pôr fim ao domínio flamengo. Em 19 de fevereiro de 1649 ocorreu a segunda vitória dos Guararapes, que tornou irreversível, cinco anos depois, a expulsão dos holandeses.


Cortes em Lisboa em 1653


As Cortes juraram herdeiro D. Afonso, futuro Afonso VI de Portugal, dada a morte aos 19 anos de seu irmão, o brilhante Príncipe D. Teodósio e permitiram um novo esforço militar e financeiro que esteve na base das vitórias alcançadas um decênio mais tarde.


Morte e juízo dos cronistas

O Rei faleceu em 8 de novembro, devido ao «mal da gota e da pedra» de que fala o conde da Ericeira, doença que se manifestara em 1648. Jaz no Panteão dos Braganças, no mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. No seu testamento, datado de 2 de novembro de 1656, confiou a regência à mulher, D. Luísa de Gusmão.
Diz Veríssimo Serrão que «a historiografia liberal procurou denegri-lo na acção de governo, mas as fontes permitem hoje assentar um juízo histórico completamente diferente. (...) Deve pôr-se em relevo a acção do monarca na defesa das fronteiras do Reino (....). Também providenciou no envio de várias embaixadas às cortes européias, para a assinatura de tratados de paz ou de trégua, a obtenção de auxílio militar e financeiro e a justificação legítima de 1640
Deve-se-lhe a criação do Conselho de Guerra (1640), da Junta dos Três Estados (1643), do Conselho Ultramarino (1643) e da Companhia da Junta de Comércio (1649), além da reforma em 1642 do Conselho da Fazenda. E a regulamentação dos negócios da Secretaria de Estado, para melhor coordenação das tarefas de Governo. Esta em 29 de novembro de 1643 foi dividida em Secretaria de Estado, de um lado, que coordenava toda a política interna e externa, e à «das Mercês e Expediente», do outro, que tratava de «consultas, despachos, decretos e ordens» não dependentes da outra Secretaria.
Promulgou abundante legislação para satisfazer as carências de governo na Metrópole e no Ultramar. E, para além do monarca e do restaurador, impõe-se considerar nele o artista e o letrado, o amador de música que, no seu tempo, esteve à altura dos maiores de Portugal.»


Casamento e descendência


Não tendo vingado o projeto de casamento com Mademoiselle de Nevers, encaminhado pelo cônsul francês Saint-Pé (1625), veio a escolher mulher na Casa de Medina-Sidónia (uma das maiores de Espanha), recebendo D. Luísa de Gusmão por esposa em 12 de janeiro de 1633 em cerimônia de grande fausto. Casou em Elvas com Dona Luísa de Gusmão, batizada Luísa Maria Francisca, nascida em Sanlucar de Barrameda 13 de outubro de 1613, que morreria em 27 de fevereiro de 1666 no claustro de Xabregas, em Lisboa. Era filha primogênita de Juan Manuel Perez de Guzman, 8º duque de Medina-Sidonia e D. Joana de Sandoval, filha do 1.º duque de Lerma D. Francisco Sandoval, de grande nobreza, neta pelo lado paterno dos duques de Bejar e de Pastrana, e pela mãe dos duques de Gandia e de Medina Coeli. Trouxe grande dote e inteligência, dando-lhe sete filhos. A ratificação do casamento realizou-se com grande pompa em Elvas a 12 de janeiro de 1633, celebrante o Bispo D. Sebastião de Matos Noronha, futuro Arcebispo de Braga, havendo grandes festas em Vila Viçosa. O casamento respondia ao desejo do conde-duque de Olivares, tanto que restituiu à casa de Bragança o ducado de Guimarães e outras prerrogativas. Ela seria regente do reino de 1656 a 1662. Seu irmão, o general Gaspar Alonso Pérez de Guzmán (morto em 1664), foi 9º duque de Medina Sidonia, governador da Andaluzia, e conspirou com o Marquês de Ayamonte para uma Andaluzia indepente, na imitação do cunhado: descoberta a conspiração, perdeu parte dos bens.
Tiveram os seguintes filhos:
Teodósio, Duque de Bragança (Vila Viçosa 1634-15 de maio de 1653 sepultado em São Vicente de Fora) Duque de Bragança, Príncipe do Brasil. De capacidade intelectual espantosa para seus verdes anos.
Ana de Bragança (nascida e morta em Vila Viçosa 1635 sepultada no claustro das Chagas)
Joana de Bragança (nascida e morta em Vila Viçosa 1636-1653) princesa da Beira.
Catarina de Bragança (1638-1705), casou com o rei Carlos II de Inglaterra
Manuel de Bragança (nascido e morto em Vila Viçosa em 1640)
Afonso VI, Rei de Portugal (1643-1675)
Pedro II, Rei de Portugal (1646-1709)
De outra senhora, incógnita, teve D. João outra filha:
D. Maria de Bragança (1644-1693)que se dedicou à vida religiosa e está sepultada no Convento de São João dos Carmelitas Descalços.



Diogo de Silves

Diogo de Silves (século XV) foi um navegador português.
De acordo com a carta do catalão Gabriel de Valseca (1439), estudada pelo historiador Damião Peres, foi o descobridor da Ilha de Santa Maria e, muito provavelmente, da Ilha de São Miguel, no ano de 1427, quando de retorno de uma viagem à Ilha da Madeira. Uma legenda, nessa carta, refere: "Estas ilhas foram achadas por Diogo de Silves [Sunis?] piloto de El-Rei de Portugal no ano de 1427".
Sobre a identidade deste personagem pouco mais se sabe. Como à época geralmente os apelidos (sobrenomes) eram toponímicos, a referência a Silves pode indicar que ele fosse natural daquela cidade algarvia, o que faz sentido se se recordar que eram algarvios muitos dos primeiros mareantes dos descobrimentos. Esta foi a leitura que fez Damião Peres. Outros autores, porém, opinam que o nome possa ser Sines ou outras variantes. Contudo, prevalece a tese de Peres até aos nossos dias.

João Gonçalves Zarco


João Gonçalves Zarco (Leça da Palmeira[1] (ou Tomar) 13941467, Funchal) foi um navegador e fidalgo português da Casa do Infante D. Henrique. Comandante de barcas, descobriu a ilha de Porto Santo (1418), com Tristão Vaz Teixeira; depois a ilha da Madeira, com Bartolomeu Perestrelo (1419).
Neto do Vedor da Fazenda de D. João I (1385-1433), João Afonso, foi armado cavaleiro pelo próprio Infante D. Henrique, a cujo lado combateu na tomada de Ceuta. Zarco não era, realmente, o seu apelido de família, e sim uma alcunha, derivada, segundo a lição etimológica de José Pedro Machado, da expressão árabe zarka, que pode ser interpretada como aquele que tem olhos azuis. Tem igualmente o sentido de zarolho.
O Infante D. Henrique nomeou-o comandante de uma embarcação cuja missão era patrulhar a Costa Sul de Portugal, uma vez que eram frequentes, naquele litoral, as razias de piratas mouros baseados em Marrocos. Assim, cedo se tornou mestre na arte de marear, descobrindo assim, aos 24 anos de idade (1418), a ilha de Porto Santo e, no ano imediato (1419), a ilha principal do que é hoje o arquipélago da Madeira.
João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira reconheceram o arquipélago da Madeira em 1418, presumindo-se que terão sido arrastados para a ilha de Porto Santo quando se preparavam para explorar a costa da África e atingir a Guiné, numa viagem a mando do Infante. Regressados a Portugal, os navegadores persuadiram D. Henrique das vantagens de estabelecer na ilha recém-descoberta uma colónia permanente, e a ela regressaram, desta vez acompanhados de Bartolomeu Perestrelo, levando cereais e coelhos. Estes últimos proliferaram ao ponto de se tornarem uma praga.
De Porto Santo, o navegador passou à Ilha da Madeira, a cuja colonização o Infante D. Henrique deu início em 1425. Na qualidade de fidalgo da casa do infante D. Henrique, Zarco participou no cerco de Tânger, onde foi armado cavaleiro, em 1437. Após essa expedição, dedicou-se à construção de embarcações na ilha da Madeira. Elas eram enviadas ao Infante e utilizadas em suas expedições para além do Cabo Bojador. Confirmando uma situação de fato, a Coroa concedeu a Gonçalves Zarco, em 1450, a Capitania do Funchal.
Dez anos mais tarde, em 4 de Julho de 1460, por concessão de D. Afonso V (1438-1481) em Santarém, Zarco passou a ostentar o apelido Câmara, derivado de Câmara de Lobos, designação atribuída pelo navegador a um local da Ilha da Madeira onde descobriu grande quantidade daqueles animais.

Casou-se com Constança Rodrigues, com quem teve sete descendentes (três varões e quatro damas). Seus descendentes mantiveram o sobrenome Câmara e aboliram o de Lobo. Diz o cronista que «seguiu desde novo a carreira marítima, exercendo o comando das caravelas que vigiavam as costas do Algarve. Quando D. Henrique se lançou no caminho das explorações, foi o primeiro que se ofereceu para o coadjuvar. D. Henrique, em 1418, mandou preparar um barco, e entregando-o a João Gonçalves Zarco e a Tristão Vaz Teixeira, mandou-os demandar terras desconhecidas ou procurar ilhas que apareciam nos mapas, a que teriam aportado há 50 ou 60 anos outros navegadores port. Zarco chegou depois de dias de viagem à ilha que batizou Porto Santo, voltando a Portugal dar conta do resultado. O infante ficou satisfeito e tratou logo de colonizar a ilha. Ordenou a ele e a Vaz Teixeira voltar a Porto Santo, dando-lhes por companheiro outro criado da sua casa, Bartolomeu Perestrelo. Nessa viagem descobriram ou demandaram a ilha da Madeira, saindo Tristão Vaz e Gonçalves Zarco do Porto Santo no dia 1º de julho de 1419, e indo aportar à Madeira no ponto a que chamaram de São Lourenço, por ser «S. Lourenço» nome do navio que os conduzia. Fizeram ao redor da ilha viagem de circumnavegação, e foram pondo nomes aos diferentes acidentes da costa. A principal baía recebeu nome de Baía do Funchal; uma grande lapa onde se escondiam muitos lobos que caçaram, o nome de Câmara de Lobos, tomando desse sitio Zarco e os seus descendentes o apelido de Câmara. Voltando a Portugal, receberam o premio. O infante confirmou a Zarco o apelido de Câmara, e deu-lhe por armas um escudo em campo verde, e nele uma torre de menagem com cruz de ouro, e dois lobos encostados à torre com paquife e folhagens vermelhas e verdes; e por timbre outro lobo em cima do paquife. Além disso, dividindo a ilha em duas capitanias, fez mercê de uma, a do Funchal, a Zarco. Partiu este para a sua ilha, depois de ter casado, e se entregou à colonização da sua propriedade. Não se esqueceu dos deveres de cavaleiro, nem da gratidão que devia ao infante. Quando D. Henrique quis tentar a expedição de Tanger, veio pôr-se à disposição. No cerco de Tanger foi armado cavaleiro pelo infante, e tendo escapado com vida a essa desastrosa expedição, tornou para a Madeira, onde, aproveitando suas ricas matas, fez construir navios com que de vez em quando auxiliou o infante nas suas expedições de descobrimento além do cabo Bojador. Parece ter sido o 1o que pôs a artilharia a bordo. Esses instrumentos guerreiros eram imperfeitos e de bem pouco serviam. Os navios de Zarco figuraram nos descobrimentos para além do cabo Bojador. Um sobrinho, Álvaro Fernandes, foi dos descobridores mais audaciosos. O ramo principal da sua casa é hoje representado pelos descendentes dos condes e marqueses da Ribeira Grande.»
Faleceu em idade avançada no Funchal, por volta de 1467, vindo a ser sepultado na Capela de Nossa Senhora da Conceição do Funchal, que ele próprio mandara edificar em 1430, muito embora o mausoléu tenha sido demolido, em 1768, a pedido da abadessa do Convento de Santa Clara, no qual fora, entretanto, integrada a pequena capela quatrocentista.

Referências



Numa quinta à época chamada dos monges beneditinos, e da qual seus pais, de origem hebraica, seriam feitores, quinta essa ainda hoje existente e chamada de Quinta da Conceição.


Bibliografia


Portugal. Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico, Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, vol. I -VII, Lisboa, 1904 - 1915.

Infante D.Henrique


O Infante Dom Henrique, Duque de Viseu, (Porto, 4 de Março de 139413 de Novembro de 1460) foi um príncipe português e a mais importante figura do início da era das Descobertas, também conhecido na História como Infante de Sagres ou Navegador.


Biografia


O Infante D. Henrique nasceu no Porto, numa Quarta-Feira de Cinzas, dia que se considerava pouco propício ao nascimento de uma criança. Era o quinto filho do rei D. João I, fundador da Dinastia de Avis e de Dona Filipa de Lencastre.
O infante foi baptizado alguns dias depois do seu nascimento, tendo sido o seu padrinho o Bispo de Viseu. Os seus pais deram-lhe o nome Henrique possivelmente em honra do seu avô materno, o duque Henrique de Lencastre.
Pouco se sabe sobre a vida do infante até aos seus catorze anos. O infante e os seus irmãos (a chamada Ínclita geração) tiveram como aio um cavaleiro da Ordem de Avis.
Em 1414, convenceu seu pai a montar a campanha de conquista de Ceuta, na costa norte-africana junto ao estreito de Gibraltar. A cidade foi conquistada em Agosto de 1415, abrindo para o Reino de Portugal as portas ao domínio do comércio que aquele porto exercia.
Em 1415, foi armado cavaleiro e recebeu os títulos de Duque de Viseu e Senhor da Covilhã. A 18 de Fevereiro de 1416, foi encarregado do Governo de Ceuta. Cabia-lhe organizar no reino a manutenção da Praça marroquina.
Em 1418, regressou a Ceuta na companhia de D. João, seu irmão mais novo. Os Infantes comandavam uma expedição de socorro à cidade, que sofreu nesse ano o primeiro grande cerco, imposto conjuntamente pelas forças dos reis de Fez e de Granada. O cerco gorou-se e D. Henrique tentou de imediato atacar Gibraltar, mas o mau tempo impediu-o de desembarcar: manifestava-se assim uma vez mais a temeridade e fervor anti-muçulmano do Infante. Ao regressar a Ceuta recebeu ordens de D. João I, para não prosseguir tal empreendimento, pelo que voltou para o reino nos primeiros meses de 1419. Montou por esta época uma armada de corso, que actuava na zona do estreito de Gibraltar a partir de Ceuta. Dispunha, de mais uma fonte de rendimentos e muitos dos seus homens habituaram-se, assim, ao mar. Alguns deles seriam desviados, mais tarde, para outras viagens em direcção a novos destinos.
Em 1419-1420 alguns dos seus escudeiros, João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, desembarcaram então nas ilhas do arquipélago madeirense, que já era visitado por navegadores portugueses desde o século anterior. As ilhas revelaram-se de grande importância produzindo grandes quantidades de cereais, minimizando a escassez que afligia Portugal. O arquipélago foi doado a D. Henrique pelo rei D. Duarte, sucessor de D. João I, em 1433.
Em 25 de Maio de 1420, D. Henrique foi nomeado dirigente da Ordem de Cristo, que sucedeu à Ordem dos Templários, cargo que deteria até ao fim da vida. No que concerne ao seu interesse na exploração do Oceano Atlântico, o cargo na Ordem foi também importante ao longo da década de 1440. Isso se deve ao fato da Ordem controlar vastos recursos, o que ajudou a financiar a exploração, a verdadeira paixão do príncipe.
Em 1427, os seus navegadores descobriram as primeiras ilhas dos Açores (possivelmente Gonçalo Velho). Também estas ilhas desabitadas foram depois colonizadas pelos portugueses,
Até à época do Infante D. Henrique, o Cabo Bojador era para a Europa o ponto conhecido mais meridional na costa de África. Gil Eanes, que comandou uma das expedições, foi o primeiro a passá-lo, em 1434, eliminando os medos então vigentes quanto ao desconhecido que para lá do Cabo se encontraria.
Aquando da morte de D. João I, o seu filho mais velho (e irmão de D. Henrique), D. Duarte subiu ao trono, e entregou a este um quinto de todos os proveitos comerciais com as zonas descobertas bem como o direito de explorar além do Cabo Bojador.
O reinado de D. Duarte durou apenas cinco anos, após o qual, D. Henrique apoiou o seu irmão D. Pedro na regência, durante a menoridade do sobrinho D. Afonso V, recebendo em troca a confirmação do seu privilégio. Procedeu também, durante a regência, à colonização dos Açores.
Com uma nova embarcação, a caravela, as expedições sofreram um grande impulso. O Cabo Branco foi atingido em 1441 por Nuno Tristão e Antão Gonçalves. A Baía de Arguim em 1443, com consequente construção de um forte em 1448.
Dinis Dias chega ao Rio Senegal e dobra o Cabo Verde em 1444. A Guiné é visitada. Assim, os limites a sul do grande deserto do Saara são ultrapassados. A partir daí, D. Henrique cumpre um dos seus objectivos: desviar as rotas do comércio do Saara e aceder às riquezas na África Meridional. Em 1452 a chegada de ouro era em suficiente quantidade para que se cunhassem os primeiros cruzados de ouro.
Entre 1444 e 1446, cerca de quarenta embarcações saíram de Lagos. Na década de 1450 descobriu-se o arquipélago de Cabo Verde. Data dessa época a encomenda de um mapa-múndi do velho mundo a Fra Mauro, um monge veneziano.
Em 1460 a costa estava já explorada até ao que é hoje a Serra Leoa.

Entretanto, D. Henrique estava também ocupado com assuntos internos do Reino. Julga-se ter patrocinado a criação, na Universidade de Coimbra de uma cátedra de astronomia.
Foi também um dos principais organizadores da conquista de Tânger em 1437, que se revelou um grande fracasso, já que o seu irmão mais novo, D. Fernando (o Infante Santo) foi lá capturado e aprisionado durante 11 anos, até falecer. A sua reputação militar sofreu um revés e os seus últimos anos de vida foram dedicados à política e à exploração.
O Infante D. Henrique foi uma personagem muito intrigante, com um certo mistério e muitos segredos. Também os seus motivos e os objectivos das suas navegações têm sido amplamente discutidos e diferenciados, mas, sem dúvida, foi o grande condutor da expansão ultramarina portuguesa e europeia.


Romance


Arkan Simaan, "L’écuyer d’Henri le Navigateur" (Harmattan, Paris), romance histórico, em francês, baseado em crónicas do século XV. O personagem central é fictício, mas o leitor percebe como foram preparadas a tomada de Ceuta e a ocupação da cidade até 1418-1419. Segue-se a aventura marítima de D. Henrique: as descobertas de Porto Santo e da Madeira, a vinda para Sagres do cartógrafo judeu majorquino, Jafuda Cresques, a colonização da Madeira, a passagem do cabo Bojador, o encontro dos portugueses com os Azenegues e os Wolofs e, enfim, as razias de escravos, sem esquecer o desastre de Tânger.


Bibliografia



1 - Sir Peter Russell, Prince Henry ´the Navigator´a Life (New Haven, 2000). Há tradução portuguesa. A melhor e mais actual biografía do Infante.
2 - Luís de Albuquerque, Dicionário de história dos descobrimentos portugueses (Círculo de Leitores, Lisboa, 1994)
3 - Mário Domingues - O Infante D. Henrique. (Ed. Romano Torres, Lisboa, 1957). Trabalho sobre o Infante, com três grandes capítulos: do tempo que vai desde o seu nascimento até à empresa de Ceuta, ao período dos estudos e experiências feitas pelo Infante tendo como objectivo os descobrimentos e por fim relativo ao período desde a morte de D. João I até à Batalha de Alfarrobeira, que é meramente político, com referências à tomada de posição em relação à regência do Reino depois da morte do rei D. Duarte e o seu relacionamento com o Infante D. Pedro. D. Afonso Henrique morreu em 1460 sem tal que lhe acontecesse.

D.Afonso Henriques


Afonso I, mais conhecido pelo seu nome de príncipe, Dom Afonso Henriques, (25 de Julho de 11096 de Dezembro de 1185) foi o primeiro rei de Portugal, conquistando a independência portuguesa em relação ao Reino de Leão.
Em virtude das suas múltiplas conquistas, que ao longo de mais de quarenta anos mais que duplicaram o território que o seu pai lhe havia legado, foi cognominado O Conquistador; também é conhecido como O Fundador e O Grande. Os muçulmanos, em sinal de respeito, chamaram-lhe Ibn-Arrik («filho de Henrique», tradução literal do patronímico Henriques) ou El-Bortukali («o Português»).

Subida ao trono

Afonso Henriques era filho de Henrique de Borgonha, Conde de Portucale e da infanta Teresa de Leão. Terá nascido em Agosto de 1109 em Viseu[1] [2]. Tradicionalmente, acredita-se que terá nascido e, possivelmente, sido criado em Guimarães, onde viveu até 1128.
Em 1120, Afonso tomou uma posição política oposta à da mãe (que apoiava o partido dos Travas), sob a direcção do arcebispo de Braga. Este, forçado a emigrar, levou consigo o infante que em 1122 se armou cavaleiro em Tui.
Restabelecida a paz, voltaram ao condado. Entretanto, novos incidentes provocaram a invasão do Condado Portucalense por Afonso VII de Castela que, em 1127, cercou Guimarães, onde se encontrava Afonso Henriques. Sendo-lhe prometida a lealdade deste pelo seu aio Egas Moniz, Afonso VII desistiu de conquistar a cidade.
Mas alguns meses depois, em 1128, as tropas de Teresa de Leão e Fernão Peres de Trava defrontaram-se com as de Afonso Henriques na batalha de São Mamede, tendo as tropas do infante saído vitoriosas – o que consagrou a sua autoridade no território portucalense, levando-o a assumir o governo do condado. Consciente da importância das forças que ameaçavam o seu poder, concentrou os seus esforços em negociações junto da Santa Sé com um duplo objectivo: alcançar a plena autonomia da Igreja portuguesa e obter o reconhecimento do Reino.
Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques autoproclamou-se rei de Portugal, com o apoio das suas tropas. Segundo a tradição, a independência foi confirmada mais tarde, nas míticas cortes de Lamego, quando recebeu a coroa de Portugal do arcebispo de Braga, D. João Peculiar, se bem que estudos recentes questionem a reunião destas cortes.

Reinado

Reconhecimento do reino

O reconhecimento de Castela chegou em 1143, com o tratado de Zamora, e deve-se ao desejo de Afonso VII de Leão e Castela em tomar o título de imperador de toda a Hispânia e, como tal, necessitar de reis como vassalos). Desde então, Afonso I procurou consolidar a independência por si declarada. Fez importantes doações à Igreja e fundou diversos conventos.
Procurou também conquistar terreno a sul, povoado então por mouros: Leiria em 1135, Santarém em 1146, Lisboa, Almada e Palmela em 1147, Alcácer em 1160 e depois quase todo o Alentejo, que posteriormente seria recuperado pelos mouros.
Em 1179 o papa Alexandre III reconheceu Portugal como país independente e vassalo da Igreja, através da bula Manifestis Probatum.

Conquistas

Cerco de Badajoz

De 1166 a 1168, D. Afonso Henriques apoderara-se de várias praças pertencentes à coroa leonesa. Fernando II de Leão estava a repovoar Ciudad Rodrigo e o português, suspeitando que o seu genro estava a fortificar a cidade para o atacar, enviou um exército comandado pelo seu filho, o infante D. Sancho, contra aquela praça. O rei leonês foi em auxílio da cidade ameaçada e derrotou as tropas portuguesas, fazendo um grande número de prisioneiros.
Em resposta, D. Afonso Henriques entrou pela Galiza, tomou Tui e vários outros castelos, e em 1169 atacou primeiro Cáceres. Depois voltou-se contra Badajoz na posse dos sarracenos, mas que pertenceria a Leão, conforme o acordado no tratado de Sahagún assinado entre aquele reino e Castela.
Não obstante, sem respeitar estas convenções nem os laços de parentesco que o uniam a Fernando, o rei português cercou Badajoz para a conquistar para Portugal. Quando os muçulmanos já estavam cercados na alcáçova, Fernando de Leão apresentou-se com as suas hostes e atacou D. Afonso nas ruas da cidade. Percebendo a impossibilidade de manter a luta, Afonso terá tentado fugir a cavalo, mas ao passar pelas portas ter-se-á ferido na coxa contra um dos ferros que a guarneciam. Fernando tratou o seu sogro prisioneiro com nobreza e generosidade, chamando os seus melhores médicos para o tratar.
Esta campanha teve como resultado um tratado de paz entre ambos os reinos, assinado em Pontevedra, em virtude do qual Afonso foi libertado, com a única condição de devolver a Fernando cidades extremenhas(da Extremadura espanhola) tais como Cáceres, Badajoz, Trujillo, Santa Cruz ,Monfragüe e Montánchez, que havia conquistado a Leão. Estabeleciam-se assim as fronteiras de Portugal com Leão e a Galiza. E mais tarde, quando os muçulmanos sitiaram Santarém, o leonês auxiliou imediatamente o rei português.

Morte e legado

Após o incidente de Badajoz, a carreira militar de D. Afonso Henriques praticamente terminou. A partir daí, dedicou-se à administração dos territórios com a co-regência do seu filho D. Sancho. Procurou fixar a população, promoveu o municipalismo e concedeu forais. Contou com a ajuda da ordem religiosa dos cistercienses para o desenvolvimento da economia, predominantemente agrária.
O legado do seu reinado foi, entre outros:
A fundação da nacionalidade, reconhecida pelo papado e pelos outros reinos da Europa;
A pacificação interna do reino e alargamento do território através de conquistas aos mouros empurrando as fronteiras do Condado Portucalense para sul.
A fundação do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em 1131
O seu túmulo encontra-se no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, ao lado do túmulo do filho D. Sancho I.

Boa relação com judeus

O reinado de Afonso Henriques ficou marcado pela tolerância para com os judeus. Estes estavam organizados num sistema próprio, representados politicamente pelo grão-rabino nomeado pelo rei.
O grão-rabino Yahia Ben Yahia foi mesmo escolhido para ministro das Finanças de Afonso Henriques, responsável pela coleta de impostos no reino. Com esta escolha teve início uma tradição de escolher judeus para a área financeira e de manter um bom entendimento com as comunidades judaicas, que foi seguida por seus sucessores.

Descendência


Pela sua mulher, Mafalda de Sabóia ou Matilde de Sabóia (1125-1157), que desposou c. 1146:
D. Henrique (1147-?)
D. Mafalda de Portugal (1149-1160), teve o seu casamento programado com o rei de Afonso II de Aragão, o que não se efectivou pela morte da infanta
D. Urraca (1151-1188), casou com o rei Fernando II de Leão
Sancho I de Portugal (1154-1212)
D. Teresa (1157-1218), depois do casamento chamada Matilde ou Mafalda, casou com Filipe I, Conde da Flandres e depois com Eudes III, Duque da Borgonha
D. João de Portugal (1160-?)
D. Sancha de Portugal (1160-?)
Filha de Elvira Gálter:
D. Urraca Afonso, senhora de Aveiro (c. 1130-?)
Outros filhos naturais:
D. Fernando Afonso, alferes-mor do Reino
D. Pedro Afonso (c. 1130-1169)
D. Afonso, 12º Grão-Mestre da Ordem dos Hospitalários (1135-1207)
D. Teresa Afonso (c. 1135-?)

Referências


Viseu, Agosto de 1109 - Nasce D. Afonso Henriques, Almeida Fernandes, o primeiro estudo sobre o nascimento do primeiro rei de Portugal, apoiado por historiadores tais como José Mattoso
Obra que defende que D. Afonso Henriques nasceu em Viseu reeditada hoje, Mariana Oliveira, Público, acedido em 30 de Abril de 2007


Precedido porTeresa de Leão
Conde de Portucale1128 - 1139
Sucedido porPortugal torna-seum reino independente
Precedido por---
Rei dos Portugueses1139 - 1185
Sucedido por Sancho I