Luís Vaz de Camões (cerca de
1524 —
10 de Junho de
1580) é frequentemente considerado como o maior
poeta de
língua portuguesa e dos maiores da Humanidade. O seu génio é comparável ao de
Virgílio,
Dante,
Cervantes ou
Shakespeare. Das suas obras, a
epopeia Os Lusíadas é a mais significativa.
Origens e juventudeCamões teria nascido em
Lisboa,
Coimbra ou
Alenquer por volta de
1517 1524 ou
1525, de uma família de origem galega que se fixou primeiro no Norte (
Chaves) e depois irradiou para
Coimbra e
Lisboa. Foi seu pai Simão Vaz de Camões e mãe Ana de Sá e Macedo. Por via paterna, Camões seria trineto do trovador galego
Vasco Pires de Camões, e por via materna, aparentado com o navegador
Vasco da Gama.
Entre 1542 e 1545, viveu em Lisboa, trocando os estudos pelo ambiente da corte de D. João III, conquistando fama de poeta, e feitio altivo.
Viveu algum tempo em
Coimbra onde teria frequentado o curso de Humanidades, talvez no
Mosteiro de Santa Cruz, onde tinha um tio padre D.
Bento de Camões. Não há registos da passagem do poeta por
Coimbra. Em todo o caso, a cultura refinada dos seus escritos torna a única
universidade de Portugal do tempo como o lugar mais provável de seus estudos. Ligado à casa do
Conde de Linhares, D.
Francisco de Noronha, e talvez preceptor do filho D. António, segue para
Ceuta em
1549 e por lá fica até
1551. Era uma aventura comum na carreira militar dos jovens, recordada na elegia Aquela que de amor descomedido. Num cerco, teve um dos olhos vazados por uma seta pela fúria rara de Marte. Ainda assim, manteve as suas potencialidades de combate.
De regresso a Lisboa, não tarda em retomar a vida boémia. São-lhe atribuídos vários amores, não só por damas da corte mas até pela própria irmã do Rei
D. Manuel I. Teria caído em desgraça, a ponto de ser desterrado para
Constância. Não há, porém, o menor fundamento documental. No dia de
Corpus Christi de
1552 entra em rixa, e fere um certo
Gonçalo Borges. Preso, é libertado por carta régia de perdão de
7 de Março de
1553, embarcando para a
Índia na armada de
Fernão Álvares Cabral, a 24 desse mesmo mês.
OrienteChegado a
Goa, Camões toma parte na expedição do
vice-rei D. Afonso de Noronha contra o
Rei de Chembe, conhecido como o «rei da
pimenta». A esta primeira expedição refere-se a elegia O Poeta Simónides falando. Depois Camões fixa-se em Goa onde escreveu grande parte da sua obra épica. Considerou a cidade como uma madrasta de todos os homens honestos. Lá estudou os costumes de
cristãos e
hindus, e a geografia e a história locais. Toma parte em mais expedições militares. Entre Fevereiro e Novembro de
1554 vai na armada de D.
Fernando de Meneses constituída por mais de 1000 homens e 30 embarcações, ao
Golfo Pérsico, aí sentindo a amargura expressa na canção Junto de um seco, fero e estéril monte. No regresso é nomeado "provedor-mor dos defuntos nas partes da China" pelo Governador Francisco Barreto, para quem escreveria o Auto do Filodemo.
Em
1556 parte para
Macau, onde continuou os seus escritos. Vive numa célebre gruta com o seu nome e por aí terá escrito boa parte de "
Os Lusíadas". Naufragou na foz do
rio Mekong, onde conservou de forma heróica o manuscrito d'Os Lusíadas então já adiantados (cf. Lus., X, 128). No naufrágio teria morrido a sua companheira chinesa Dinamene, celebrada em série de sonetos. É possível que datem igualmente dessa época ou tenham nascido dessa dolorosa experiência as redondilhas Sôbolos rios.
Regressa a Goa antes de Agosto de
1560 e pede a protecção do Vice-Rei D.
Constantino de Bragança num longo poema em oitavas. Aprisionado por dívidas, dirige súplicas em verso ao novo Vice-Rei, D.
Francisco Coutinho,
Conde do Redondo, para ser liberto. Em
1568, vem para a
Ilha de Moçambique, onde, passados dois anos,
Diogo do Couto o encontrou, como relata na sua obra, acrescentando que o poeta estava "tão pobre que vivia de amigos". (Década 8.ª da Ásia). Trabalhava então na revisão de Os Lusíadas e na composição de "um Parnaso de Luís de Camões, com poesia, filosofia e outras ciências", obra roubada.
Diogo do Couto pagou-lhe o resto da viagem até Lisboa, onde Camões aportou em
1570. Em 1580, de regresso a Lisboa, assistiu à partida do
exército português para o
norte de África, morre numa casa de Santana, em Lisboa, sendo enterrado numa campa rasa numa das igrejas das proximidades.
Os Lusíadas e a obra líricaOs Lusíadas é considerada a principal epopeia da época moderna devido à sua grandeza e universalidade. As realizações de Portugal desde o
Infante D. Henrique até à
união dinástica com
Espanha em
1580 são um marco na História, marcando a transição da
Idade Média para a Época Moderna. A epopeia narra a história de
Vasco da Gama e dos heróis portugueses que navegaram em torno do
Cabo da Boa Esperança e abriram uma
nova rota para a Índia. É uma epopeia humanista, mesmo nas suas contradições, na associação da mitologia pagã à visão cristã, nos sentimentos opostos sobre a guerra e o império, no gosto do repouso e no desejo de aventura, na apreciação do prazer e nas exigências de uma visão heróica.
A obra lírica de Camões foi publicada como "Rimas", não havendo acordo entre os diferentes editores quanto ao número de sonetos escritos pelo poeta e quanto à autoria de algumas das peças líricas. Alguns dos seus sonetos, como o conhecido
Amor é fogo que arde sem se ver, pela ousada utilização dos
paradoxos, prenunciam já o
Barroco que se aproximava.
As armas e os barões assinaladosQue, da ocidental praia lusitana,Por mares nunca de antes navegadosPassaram ainda além da Taprobana,Em perigos e guerras esforçados,Mais do que prometia a força humana,E entre gente remota edificaramNovo reino, que tanto sublimaram.(...)Cantando espalharei por toda a parte,Se a tanto me ajudar o engenho e arte
Camões, Lusíadas, Canto I. O estiloÉ fácil reconhecer na obra poética de Camões dois estilos não só diferentes, mas talvez até opostos: um, o estilo das redondilhas e de alguns sonetos, na tradição do Cancioneiro Geral; outro, o estilo de inspiração latina ou italiana de muitos outros sonetos e das composições (h)endecassílabas maiores. Chamaremos aqui ao primeiro o estilo engenhoso, ao segundo o estilo clássico. O estilo engenhoso, tal como já aparece no Cancioneiro Geral, manifesta-se sobretudo nas composições constituídas por mote e voltas. O poeta tinha que desenvolver um mote dado, e era na interpretação das palavras desse mote que revelava a sua subtileza e imaginação, exactamente como os pregadores medievais o faziam ao desenvolver a frase bíblica que servia de tema ao sermão. No desenvolvimento do mote havia uma preocupação de pseudo-rigor verbal, de exactidão vocabular, de modo que os engenhosos paradoxos e os entendimentos fantasistas das palavras parecessem sair de uma espécie de operação lógica.
Obras1572-
Os Lusíadas (
texto completo)
1595 -
Amor é fogo que arde sem se ver1595 -
Eu cantarei o amor tão docemente1595 -
Verdes são os campos1595 -
Que me quereis, perpétuas saudades?1595 -
Sobolos rios que vão1595 -
Transforma-se o amador na cousa amada1595 -
Sete anos de pastor Jacob servia1595 -
Alma minha gentil, que te partiste1595 -
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades1595 -
Quem diz que Amor é falso ou enganosoBibliografia"Os Lusíadas". Catálogo da Exposição Bibl., iconogr. e medalhística de Camões. Intr., sel. e notas de José V. de Pina Martins. Lisboa, 1972;
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Revista Camoniana (S. Paulo, 10 vols publ. desde 1964).
Grande enciclopédia do conhecimento.